Como redes sociais bagunçam seu cérebro (e sua vida inteira)

TikTok.

A plataforma perfeita pra você se sentir atoa em HD.

Eu sei porque já me peguei rolando por horas, o polegar adestrado, o olhar meio vidrado, o cérebro pingando dopamina baratinha — e depois? Depois vem o vazio, a sensação de “por que mesmo eu precisava saber como fazer torta de ricota em 12 segundos?”.

Eu já desinstalei o app várias vezes. Detox digital. Fugi do algoritmo como quem foge de ex tóxico, que você sabe que faz mal, mas ainda assim se pega espionando de madrugada. E toda vez que fiquei longe me senti muito bem. Tipo muito. Como se minha cabeça finalmente respirasse, como se sobrasse espaço pra existir sem comparações, sem urgências que não são minhas.

Tem estudos que mostram que isso não é só sensação. A Universidade de Harvard tem pesquisas clássicas sobre como redes sociais ativam exatamente os mesmos circuitos de recompensa do vício em drogas. Cada notificação, cada vídeo que faz rir ou chorar, é uma microdose de dopamina. Um artigo publicado no Journal of Social and Clinical Psychology mostrou que, quanto mais tempo a gente passa no Instagram, TikTok e afins, maior a chance de sintomas depressivos e ansiosos. É literalmente o cérebro sendo treinado a querer mais estímulo e menos silêncio interno.

Minha vida ideal seria tão mais simples.

Morando na praia, jogando beach tennis todo dia, sem notificação nenhuma me dizendo o que sentir, quem invejar, o que comprar, o que sonhar. Só o barulho do mar, a bola quicando na areia e talvez uma cerveja gelada pra brindar o fato de estar viva e, finalmente, presente.

No fim das contas, acho que é isso.

Quero menos feed e mais vida real. Menos dopamina sintética e mais serotonina do sol batendo na pele. Quero ficar atoa — mas atoa de verdade, sem algoritmo nenhum pra me dizer o que fazer com o meu tempo livre. Porque talvez seja só aí que eu me encontre de novo.

-b.monma

Publicado por Bruna Monma

Escritora e criadora de projetos autorais. Escrevo crônicas, reflexões e narrativas sobre identidade, tempo e o que não cabe em legendas. Acredito na palavra como forma de presença.

8 comentários em “Como redes sociais bagunçam seu cérebro (e sua vida inteira)

  1. Deve ser por aí mesmo. Pra mim o peso não é tanto, por que sou de uma geração que ainda viveu o analógico, falava pouco por telefone por que era caro e escrevia cartas pra se comunicar. Já na “opinião Pública”, no senso comum, quem mexia eram as grandes redes de comunicação, mais especialmente a Globo. receita de Torta de Ricota, só no livrinho de receitas, no programa ou na revistinha da ana maria braga. Então, na real, sempre foi este o jogo. Só mudou a tecnologia. Mas a sociedade compreender que é um avanço crianças não usarem celular na escola, e que é preciso regulamentar as redes e as bightechs, já é um começo pra que tu e eu tenhamos um pouco mais de tempo livre do algoritmo e do trabalho. Até por que, o algoritmo e os robôs deveriam servir justamente pra reduzir cada vez mais nosso tempo de trabalho e garantir uma vida cada vez melhor para todos.

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    1. Oi Luiz!
      Teu comentário me fez refletir mais ainda — e sorrir, confesso. Tem algo bonito e nostálgico em lembrar do tempo das cartas, dos livrinhos de receita, da vida sem feed e sem filtro. E é muito real isso que você disse: o jogo sempre existiu, só mudou a tecnologia. A diferença é que agora o algoritmo joga com a nossa dopamina, e a gente nem percebe.

      E sim, regular essas bigtechs e reconquistar um pouco de tempo livre já seria revolucionário. Talvez assim a gente consiga viver mais no tempo da gente — e não no tempo dos robôs.

      Obrigada por trazer sua visão aqui. A troca entre gerações é exatamente o tipo de conexão que a internet deveria promover. 🙏

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  2. Claro. Na verdade, eu sou da Geração de Blogueiros do início dos anos dois mil. Enquanto muitos blogs daquela epoca desistiram ou foram entrando na lógica das redes, eu mantive o blog. O Blog pelo menos é meu e faço dele e nele o que eu bem quiser. E também não cai no canto de sereia da monetização via bightechs. Meu trabalho é financiado por parceiros que acreditam que o trabalho que desenvolvo no blog é importante assim como é. Admiro muito a gurizada que como tu, se disponham a escrever e debater o que pensam, nem que isto leve mais que os 12 segundos de um vídeo de uma Rede Social.

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    1. Oi Luiz, adorei saber disso!
      Você é da geração de blogueiros raiz — e isso tem um valor enorme hoje, onde tudo parece tão descartável. Confesso que também tive um blog há muitos anos, mas perdi o acesso porque usava pouco, e naquela época nem passava pela minha cabeça que isso poderia virar um trabalho de verdade. Era quase um diário público, né?

      Fiquei curiosa sobre como funciona o seu trabalho com o blog hoje. Como é essa dinâmica com os parceiros? Você criou esse modelo desde o início ou ele foi se construindo com o tempo?
      Achei incrível a forma como você manteve a autonomia criativa. É o que mais me encanta nesse universo fora das bigtechs: a liberdade de fazer do nosso espaço o que bem quisermos.

      Obrigada por compartilhar tua história aqui. De verdade. Me inspira a continuar escrevendo do meu jeitinho, mesmo que leve mais que os 12 segundos de um vídeo.

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  3. Quem garante minha subsistência sao pessoas e entidades que concordam com as posições que expresso no Blog. E este financiamento pelos parceiros foi sendo construído, por que estes parceiros acreditam que é necessário uma comunicação de Esquerda, que só é possível sem o “canto de sereia” da monetização via Google ou redes.

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    1. Obrigada por compartilhar sua perspectiva. Achei muito interessante saber como você construiu sua independência e respeito demais quem consegue manter uma coerência ideológica mesmo fora dos grandes circuitos de monetização.

      No meu caso, meu conteúdo não é financiado por nenhum parceiro nem por monetização automatizada. Ainda assim, busco levantar reflexões críticas — inclusive sobre as próprias redes sociais, a economia da atenção e a forma como tudo isso molda nosso comportamento.

      Minha intenção com o texto foi justamente provocar esse tipo de debate: será que estamos conscientes do impacto que esse “canto de sereia” tem na nossa saúde mental e visão de mundo?

      Sinta-se sempre bem-vindo por aqui 💬
      – b. monma

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