O Grande Espetáculo da Mediocridade

Era uma vez um homem chamado Tonho. Mas não qualquer Tonho. Este era O Tonho. O maior espetáculo de apatia que já pisou nesta terra. Se houvesse uma Olimpíada da preguiça, ele levaria ouro, mas provavelmente reclamaria do peso da medalha.

Tonho não andava, se arrastava. Cada passo seu parecia um sacrifício digno de épicos históricos, como se estivesse escalando o Everest quando, na verdade, só precisava ir até a esquina. Ele não trabalhava, ele cumpria tabela – e mesmo assim, com um desempenho tão desanimado que até um relógio quebrado era mais produtivo que ele.

Tudo para Tonho era um fardo. Uma cruz. Um sofrimento digno de novela mexicana. Pedir para ele fazer algo era como pedir para um peixe escalar uma árvore: impossível e ainda gerava um olhar de indignação, como se a mera sugestão fosse um insulto à sua existência. Mas é claro, ele não dizia isso abertamente. Tonho não falava. Tonho murmurava. Pelos cantos, entre dentes, sempre com aquela energia passivo-agressiva de quem gostaria de ser uma pessoa de atitude, mas o peso da própria insignificância não permitia.

E havia outra coisa sobre Tonho. Ele não gostava de mulheres mandando nele. Porque, veja bem, respeitar uma mulher como autoridade exigiria um nível de evolução que Tonho, estagnado em alguma vida passada, não havia atingido. Ele preferia resmungar, minar pelas beiradas, como um roedor tentando roer a fundação de um castelo.

Mas o mais fascinante em Tonho era sua incapacidade de perceber o próprio papel no teatro da vida. Enquanto todos ao seu redor evoluíam, buscavam, tentavam, falhavam e tentavam de novo, Tonho ficava ali, emperrado, esperando que o mundo mudasse sem que ele precisasse mexer um músculo. Mas o mundo não espera por Tonhos. O mundo avança, enquanto os Tonhos da vida permanecem estagnados, afundando em suas próprias reclamações, vítimas da única coisa que realmente os impede de crescer: eles mesmos.

Dizem por aí que a preguiça é um freio no quesito evolutivo do espírito. No caso do Tonho, parece que o freio travou de vez.

Publicado por Bruna Monma

Escritora e criadora de projetos autorais. Escrevo crônicas, reflexões e narrativas sobre identidade, tempo e o que não cabe em legendas. Acredito na palavra como forma de presença.

6 comentários em “O Grande Espetáculo da Mediocridade

      1. Exatamente… O que diferencia cada um no processo evolutivo não é a falta de desafios, mas a escolha entre permanecer estagnado ou buscar crescimento. Alguns se tornam protagonistas da própria história, outros continuam como figurantes na mesmice de sempre.

        Curtido por 2 pessoas

  1. Super me identifiquei, eu sou exatamente assim, sou um Tonho. Por isso que vou viajar pelo Brasil, sem dinheiro, para aprender a viver nem que seja na base da porrada. Minha única diferença é que estou tentando mudar, espero deixar de ser um tonho. Esse texto é sobre você ou alguém próximo? 🤔🤣❤️

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