Crawling Back to Nostalgia


A gente passa tanto tempo tentando ter controle sobre tudo que esquece o quanto é bom se perder um pouco.

Ouvir Hozier transformar “Do I Wanna Know?” foi como abrir um portal para uma saudade que eu nem sabia que sentia. Algumas saudades são diferentes de outras. Existem aquelas saudades fofas, tipo saudade de um brigadeiro na TPM, e existem aquelas que doem no peito como um boleto vencido que a gente esqueceu de pagar. Mas essa era diferente. Era saudade de um tempo em que a vida era descomplicada, de um romance que nunca teve começo nem fim, mas sempre existiu ali, flutuando no espaço-tempo.

O nome ou a pessoa pouco importavam agora. O ponto era que, naquela época, a minha maior preocupação era estudar para uma prova de química e não entender nada de ligações covalentes. Não tinha muitos compromissos, boletos, funcionários, decisões importantes ou mensagens urgentes que exigiam resposta imediata. Só existia o agora, o momento, a leveza de um encontro que acontecia sem precisar ser planejado. Era tudo tão fácil que dava até preguiça de chamar de romance.

Mas o problema de crescer é que a vida é basicamente uma sequência interminável de tarefas e alarmes. Você acorda e já tem coisa para fazer. Você dorme e sonha com as coisas que precisa fazer no dia seguinte. O botão de pausa simplesmente não existe mais. E aí, no meio dessa correria insana, bate a saudade daquela versão de mim que não precisava de agenda para marcar um café ou de planejamento estratégico para tirar um dia off sem culpa.

Engraçado como certas coisas mudam de cor com o tempo. O que parecia caótico na adolescência hoje soa quase sereno. É tipo ouvir Do I Wanna Know? do Arctic Monkeys naquela época e sentir o peso da frustração, da confusão, do desejo misturado com orgulho ferido. Era intenso porque a gente também era. Hoje, ouvindo a versão do Hozier, parece outra música. Agora o desejo vem com aceitação, sem tanta luta, sem precisar de todas as respostas. A gente aprende que algumas coisas simplesmente são, e tudo bem.

A verdade é que a minha definição de luxo mudou. Antes, eu queria uma bolsa cara. Hoje, eu quero dormir sem despertador. Eu quero viajar sem roteiro, sem compromisso, sem ter que justificar para ninguém que eu mereço esse descanso. Eu quero sentir que a vida flui de novo, como naquela época em que a gente só precisava existir e tudo parecia dar certo no final.

Então, talvez a moral dessa história não seja sobre o romance, nem sobre Hozier, nem sobre a prova de química que eu provavelmente fui mal. Talvez seja sobre o fato de que a gente passa tanto tempo tentando ter controle sobre tudo que esquece o quanto é bom se perder um pouco. E eu estou oficialmente decidida a me perder mais—de preferência em uma praia, com um drink na mão e o celular no modo avião.

Porque, no final das contas, leveza não é coisa do passado. Ainda dá tempo de resgatá-la.

Publicado por Bruna Monma

Escritora e criadora de projetos autorais. Escrevo crônicas, reflexões e narrativas sobre identidade, tempo e o que não cabe em legendas. Acredito na palavra como forma de presença.

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