Outro dia, anotei no caderno três coisas que eu queria ser: menos reativa, mais poética e um pouco mais minha. Simples assim. Três frases curtas, que de tão simples quase passam batido… mas que, na prática, são uma revolução disfarçada de meta do mês.
Ser menos reativa, por exemplo, parece fácil até o momento em que alguém pisa no meu calo — e eu tenho o reflexo de devolver com um salto de três metros e uma frase atravessada. Não quero mais ser essa versão automática de mim. Quero ser a que respira antes de responder. A que toma um gole d’água em vez de soltar fogo. A que se cala não por medo, mas por escolha. Porque ser menos reativa não é ser passiva — é ser sábia. E eu tô cansada de ser explosiva e me arrepender depois.
Voltar a treinar o olhar poético pras pequenas coisas do dia a dia também entrou na lista. Porque a verdade é que a vida não parou de ser bonita — fui eu que andei míope de alma. Passo pela mesma rua todo dia, mas deixei de notar a o cachorro da esquina, as plantas que crescem tímidas nas calçadas, o céu que muda de cor entre um compromisso e outro. Quero reaprender a ver. A ver com o coração, com a sensibilidade que sempre foi minha, mas que andou trancada no armário das obrigações. Quero escrever uma frase por dia do que senti. Fotografar o que ninguém repararia. Ouvir música como quem reza com os fones. Me reencontrar com essa parte de mim que fazia poesia com o café esfriando.
E por último, cuidar de mim. Porque se tem uma coisa que aprendi é que quando a gente se deixa pra depois, tudo começa a travar: o corpo, os planos, os afetos. Quando eu tô bem, as coisas fluem. E cuidar de mim não é sobre spa, dieta ou estética. É sobre respeito. Dormir melhor. Comer o que me faz bem. Mexer o corpo, não por estética, mas pra me sentir presente em mim. Dizer não. Dizer sim. Reaprender a falar comigo sem julgamento. Ser meu próprio porto.
Talvez a vida não peça grandes mudanças. Talvez só precise de pequenas revoluções silenciosas feitas dia após dia — dentro da gente.
Talvez tudo comece assim:
com três frases num caderno,
um pouco mais de ar antes da resposta,
e a coragem de voltar a se olhar com carinho.
– b. monma