A chupeta, a fralda e a liberdade

Dizem que todo bebê gosta de dormir no meio dos pais.

Eu não. Desde que me entendo por gente, gosto do meu quarto, da minha cama, do meu canto. Nunca fui de colo emprestado. Minha mãe conta que, com menos de um ano, tirei a fralda porque ela me incomodava. Com nove meses eu andava – não sei se com pressa de chegar a algum lugar ou só pra provar que podia.

Aos cinco anos, chorei desesperada por ter perdido a chupeta. Era noite, e eu não conseguia dormir sem ela. No dia seguinte, minha mãe achou, limpinha, no cantinho da cama, e me entregou como quem devolve o mundo.

Eu olhei, respirei fundo e disse:

— Não quero mais.

E nunca mais quis.

Tenho pensado sobre o quanto essa cena me define. A intensidade do apego. A decisão silenciosa da ruptura. O choro. A escolha.

Eu sou a que sente tudo. Mas que escolhe quando parar.

Sou feita de perdas súbitas e decisões definitivas.

O mais curioso é que, segundo a psicologia do desenvolvimento infantil, esse tipo de comportamento autônomo precoce revela mais do que uma fase: revela estrutura.

Jean Piaget já dizia que é entre o nascimento e os sete anos que a gente começa a desenvolver o chamado “senso de agência” — aquela noção interna de que nossas escolhas causam efeitos no mundo ao redor.

Ou seja: quando tirei a fralda com menos de um ano ou recusei a chupeta com cinco anos, talvez não fosse só teimosia ou maturidade. Talvez fosse só o começo do meu jeito de existir.

Livre.

Decidida.

Cheia de vontades — e de limites também.

Hoje vejo que nunca deixei de ser a menina que se cobria sozinha, mesmo com medo do escuro. A que sabia que pra crescer, às vezes, a gente precisa abrir mão até daquilo que parecia conforto.

E você?

O que foi que você deixou de lado ainda criança… e que talvez tenha revelado quem você realmente é?

Publicado por Bruna Monma

Escritora e criadora de projetos autorais. Escrevo crônicas, reflexões e narrativas sobre identidade, tempo e o que não cabe em legendas. Acredito na palavra como forma de presença.

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