The Smiths- The Light That Never Goes Out 

Tem gente que tem uma música com um ex.

Eu tenho com o meu pai.

É do The Smiths, claro. Porque, assim como ele, a música tem esse jeito meio triste, meio poético, meio profundo — e totalmente clássico. “To die by your side is such a heavenly way to die”.

Pois é. A nossa é The Light That Never Goes Out.

E talvez porque ele sempre foi exatamente isso pra mim: uma luz que nunca se apaga. Mesmo quando a minha só pisca.

Meu pai acredita em mim de um jeito que, às vezes, me irrita.

Tipo: como você pode ter tanta certeza, pai?

Quando nem eu tenho.

Ontem ele me disse, do nada, que pensou uma coisa:

— “Bruna, você devia escrever sobre espiritualidade. Acho que você se daria bem. Você é muito espiritualizada. E escreve bem.”

Ele nunca leu meu blog.

Mas soube.

Soube porque, talvez, fé mesmo é isso: saber sem ler. Sentir sem ver. Acreditar mesmo sem link.

Fiquei pensando: será que ele pensou isso no mesmo momento em que eu, dias atrás, brinquei com a minha irmã sobre os papéis numa família?

Falei que toda família de sucesso tem:

Um filho médico, advogado ou engenheiro. Um filho que é um relógio (o que segura tudo). E um filho famoso.

Ela é engenheira.

A caçula ainda tá decidindo.

E eu… bom, eu ainda tô entre ser a filha famosa ou a filha que vira guru.

Confesso: tem dia que eu só queria ser a que brilha.

Mas talvez eu tenha sido feita mesmo pra iluminar.

E se meu pai viu isso antes de mim…

então talvez The Light That Never Goes Out seja menos uma música e mais uma profecia.

Porque a verdade é essa: meu pai nunca me deixou no escuro.

Nem quando eu mesma apaguei a luz.

– b. monma

Publicado por Bruna Monma

Escritora e criadora de projetos autorais. Escrevo crônicas, reflexões e narrativas sobre identidade, tempo e o que não cabe em legendas. Acredito na palavra como forma de presença.

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