desde criança eu vejo isso.
qualquer desenho americano, europeu, japa — tanto faz.
sempre tem um índio rodando em círculo, batendo tambor, dançando pra fazer chover.
todo mundo acha fofo. excêntrico. “olha só, esses selvagens acham que conversam com as nuvens.”
claro, é só folclore.
até que você cresce e descobre que no brasil existe a fundação cacique cobra coral, que faz a mesmíssima coisa — mas com contrato, CNPJ, e releases pra imprensa.
diz canalizar o espírito de um cacique ancestral (que supostamente já foi galileu e abraham lincoln, porque por que não?).
e que tem, ou já teve, paulo coelho como vice-presidente.
sim, o mesmo paulo coelho que fez pacto de sangue com raul seixas, que adorava aleister crowley e pregava o “faze o que tu queres”.
pois é, esse mesmo.
e o melhor vem agora:
recentemente, eles romperam 50% do “acordo climático espiritual” com os estados unidos.
motivo? trump meteu uma tarifa de 50% no aço brasileiro e eles decidiram: “ok, então vocês também vão ficar 50% sem nossa ‘proteção contra catástrofes naturais’.”
e não é que o tempo fechou por lá? alertas de tornados, enchentes, caos aéreo.
coincidência?
ah, o universo adora brincar de coincidência.
igual foi “coincidência” o mega show da madonna em copacabana — palco cravejado de cruz invertida, coroa de espinhos, dançarinos fingindo crucificação — acontecer enquanto o rio grande do sul afundava na maior tragédia climática da história deles.
detalhe: previsão era de chuva no rio, mas, claro…
não choveu.
parece que o cacique também tem gosto musical.
mas eu não sei.
ou sei demais.
porque jung já dizia que “quando o inconsciente é negligenciado, ele se manifesta como destino.”
ou seja, aquilo que você não quer olhar, volta.
o que você tenta controlar, escapa pela porta dos fundos.
o universo tem horror a pendências.
mexe numa ponta, balança a outra.
ônus e bônus, débito e crédito, o mesmo livro-caixa invisível que ninguém audita, mas todo mundo paga.
hildegarda falava que “a alma é sinfonia viva.”
pois é, e a gente insiste em desafinar.
quer controlar o clima, o amor, o carma, o trânsito na linha amarela.
quer fazer chover só no quintal do vizinho.
mas esquece que, no fundo, a vida tem uma partitura própria — e cobra caro de quem tenta rasgar a pauta.
e nietzsche? ah, ele riria de canto de boca e soltaria um “cuidado pra não dançar demais com teus deuses, porque eles podem te devorar no bis.”
no fim das contas, é meio isso:
rimos dos índios dançando pra fazer chover nos desenhos, mas corremos pra médium do cacique pra segurar o temporal no réveillon.
gastamos fortuna em show com performance “meio satânica mas só de brincadeira” e depois fingimos surpresa quando o outro lado do país é levado pela correnteza.
fingimos que é só “tempo”. só “clima”. só “política”.
mas eu não sei.
ou sei e preferia não saber.
porque viver é isso: ficar rodando em círculos em volta do que a gente não entende, torcendo pra conta do universo cair no e-mail errado.
no fim, todo mundo dança a dança da chuva.
só muda o figurino.
– b. monma