Crônicas do Agora: Vaidade com propósito — o espelho me viu primeiro

Antes de sair pra vida, eu me visto pra mim. O espelho é meu primeiro abraço — ou meu primeiro enfrentamento.

Nem toda vaidade é vazia. Algumas são refúgio. Outras, armadura. Algumas vêm da autoestima. Outras, da necessidade de lembrar quem se é — quando o mundo tenta fazer esquecer.

Tem dias que a roupa me veste. Tem outros que é ela que me salva. O batom vermelho já me curou da apatia. O brinco dourado já me resgatou da invisibilidade.

O espelho sabe das coisas. Ele vê antes de todo mundo. Vê a lágrima que secou. Vê o rímel borrado por dentro. Vê a mulher que precisa se lembrar de si.

Moda como linguagem emocional

A psicologia das cores, da forma e da estética mostra que o vestir não é só aparência: é comunicação emocional. Segundo a pesquisadora Karen Pine, autora de “Mind What You Wear”, a roupa tem poder direto sobre o comportamento, a confiança e até a postura da pessoa.

Ou seja, o que você veste altera quem você é — mesmo que só por algumas horas. Mas o melhor: também pode lembrar quem você foi.

Tem peças que são como memória viva. A gente veste e lembra de quem estava se tornando.

Isso também é vaidade. Mas é vaidade com alma. Com intenção. Com propósito.

Estilo como território de cura

Já vesti roupas que me diminuíam. Já tentei caber em estéticas que não me acolhiam. Já segui tendências que me apagavam em nome da aceitação.

Mas hoje, eu quero vestir o que me devolve. O que me abraça. O que conversa com minha nova fase. O que combina mais com minha paz do que com meu feed.

O estilo é uma forma de marcar território no mundo — mesmo que o mundo nem esteja olhando.

O espelho como oráculo

Talvez a pergunta nunca tenha sido “com que roupa eu vou?” — mas sim: “o que essa roupa diz sobre mim?”

Não me arrumo mais pra impressionar. Me arrumo pra lembrar. De quem sou. Do que mereço. Do que não aceito mais.

O espelho continua ali, me vendo primeiro. E agora, ele sorri de volta.

– b. monma

✦ Na próxima crônica: “O corpo real como rebelião silenciosa.”
Porque amar o próprio reflexo é o novo ato de resistência.

Publicado por Bruna Monma

Escritora e criadora de projetos autorais. Escrevo crônicas, reflexões e narrativas sobre identidade, tempo e o que não cabe em legendas. Acredito na palavra como forma de presença.

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