Não foi uma epifania.
Foi uma dúvida.
Aquelas que não chegam gritando, chegam sentando no sofá, cruzando as pernas, olhando pra você como quem diz: “e o futuro?”
Escrever sempre foi o jeito que encontrei de colocar minhas ideias no mundo.
Não porque eu quisesse ser ouvida.
Mas porque, se eu não escrevesse, elas ficavam presas em mim e eu ficava pesada.
O problema é que, em algum momento, a escrita começou a pedir mais do que catarse.
Ela começou a pedir destino.
— Mas você só escreve sobre você, alguém poderia dizer.
E talvez esteja certo.
Eu não sei escrever o sentimento do outro.
Nunca soube.
Não sei narrar a dor alheia com segurança.
Não sei fingir empatia técnica.
Não sei habitar emoções que não passaram pelo meu corpo.
O que eu sei é escrever o que o mundo provoca em mim.
O silêncio do outro.
A ausência.
A violência disfarçada de normalidade.
O amor que não sabe estar.
O medo de errar.
A vontade de ir.
A culpa por ficar.
Talvez isso seja egoísmo.
Ou talvez seja honestidade.
Porque, no fundo, quando escrevo sobre mim, não estou falando só de mim.
Estou falando do ponto exato onde o mundo me atravessa,
e é ali que quase todo mundo se reconhece.
Mesmo assim, a dúvida volta:
Será que esse caminho se sustenta?
Será que escrever assim é carreira ou só refúgio bonito?
E os ganhos? E o longo prazo?
A escrita não responde.
Ela nunca responde.
Ela apenas continua me chamando.
E talvez maturidade seja isso:
continuar, mesmo sem garantias.
Estruturar o possível sem abandonar o essencial.
Parar de perguntar se a escrita vai me salvar,
e começar a perguntar que tipo de vida eu quero sustentar com ela.
Não tenho um plano fechado.
Tenho um eixo.
Escrever não é tudo o que eu faço.
Mas é de onde tudo parte.
E, por enquanto, isso basta.
Porque algumas escolhas não pedem certeza.
Pedem coragem silenciosa.
— b. monma