Há mulheres que não apenas escrevem, abrem caminhos.
A minha escrita nasceu assim: atravessada por vozes femininas que chegaram cedo demais para serem apenas referências e tarde demais para serem esquecidas.
Desde muito nova, eu lia mulheres. Lia com fome. Lia como quem encontra espelhos antes de aprender a se olhar. Transcrevia trechos em cadernos, em folhas soltas, em pensamentos. Adaptava versos à minha própria vida como quem ajusta uma roupa herdada ainda grande demais, mas já minha.
Clarice Lispector foi talvez a primeira a me ensinar que escrever não precisava explicar, podia apenas ser. Com ela, aprendi o silêncio, o abismo, a palavra que não conforta, mas revela. Clarice me mostrou que pensar dói, mas que não pensar dói mais.
Cecília Meireles me apresentou a delicadeza que sustenta. A musicalidade que não grita. A força que não disputa espaço. Com Cecília, entendi que suavidade não é fragilidade, é escolha estética e espiritual.
Veio então Fernanda Young, abrindo uma fenda. Ela rasgou a ideia de que mulher precisava ser contida para ser respeitada. Com Fernanda, aprendi a ironia, o excesso, o pensamento indomável. Ela me deu permissão para ser intensa sem pedir desculpa.
Tati Bernardi chegou como quem conversa comigo na mesa da cozinha. Ácida, vulnerável, engraçada, humana. Tati me ensinou que escrever também é rir do próprio caos. Que profundidade não precisa ser sisuda. Que dá pra sangrar com humor.
Cris Guerra me mostrou o amor depois do fim. A dor que continua andando. A escrita como sobrevivência. Com ela, entendi que contar a própria história não é exposição, é legado emocional.
Bruna Vieira foi companhia de juventude. A escrita que acolhe, que entende quem ainda está se formando por dentro. Com Bruna, aprendi que escrever também pode ser abrigo, carta, casa.
Ruth Manus me ensinou sobre justiça emocional. Sobre colocar limite em palavra. Sobre o feminino que se posiciona, que nomeia o abuso, que organiza o caos com lucidez.
Clarissa Corrêa trouxe o cotidiano com poesia seca, real, urbana. A escrita que observa o detalhe e o transforma em revelação. Com ela, aprendi que o simples também corta fundo.
E Brenda Braz, com sua linguagem afiada e sensível, me mostrou que o novo também pulsa, que há uma geração inteira escrevendo com coragem, corpo e verdade.
Eu não apenas li essas mulheres.
Eu me formei nelas.
Cada uma deixou um traço:
uma coragem, uma pergunta, uma permissão.
Minha escrita é um mosaico dessas vozes, não como cópia, mas como continuidade.
Escrevo hoje porque antes delas alguém escreveu.
E porque, sem perceber, eu já transcrevia o mundo tentando caber dentro de mim.
Talvez escrever seja isso:
uma longa conversa entre mulheres que nunca se sentaram juntas, mas que, de algum modo, continuam se reconhecendo na mesma página.
— b. monma✨
Que lindo isso, Bruna! 😀
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