
Entre a fé e o poder, sempre houve um jogo de cadeiras—mas nem sempre quem senta é quem realmente tem a conexão divina.
Se tem uma coisa que sempre me intrigou é como certas decisões na história foram tomadas sob o pretexto de serem “divinas”. Reis eram escolhidos pelo “direito divino”, batalhas eram travadas “em nome de Deus” e, claro, papas eram eleitos por um grupo seleto de senhores de batina, trancados em uma sala cheia de ouro, debatendo espiritualmente (e politicamente) sobre quem receberia o cargo vitalício de representante de Deus na Terra. Um processo que, dependendo da época, envolvia não só orações, mas também conspirações, ameaças veladas e, quem sabe, uma taça de vinho envenenada aqui e ali.
Enquanto assistia à série Conclave, percebi que há algo de fascinante e ligeiramente perturbador nesse espetáculo. Cardeais reunidos em um palácio, sem contato com o mundo exterior, supostamente esperando um “sinal divino” para decidir o futuro da Igreja. Mas convenhamos: se a conexão direta com Deus fosse tão boa assim, bastaria um e-mail celestial, talvez algo como jesuscristo@paraiso.com, com o assunto: “Aqui está seu novo Papa. Atenciosamente, O Criador.”
Mas não, a coisa é mais complicada. Os cardeais fazem alianças, jogam xadrez político, cochicham pelos corredores como se estivessem decidindo algo muito mais mundano, tipo quem vai herdar o trono em Game of Thrones. No fundo, a impressão é que a fumaça branca sai quando há um consenso entre os homens, e não necessariamente entre os céus.
E isso me leva a um questionamento mais profundo: quantas das decisões que moldaram o mundo foram realmente baseadas na fé e quantas foram simplesmente o resultado de boas articulações políticas? Quantas vezes a espiritualidade foi usada como desculpa para manter o poder concentrado nas mãos certas? E, se formos além da Igreja, quantas vezes na vida a gente aceita verdades prontas, acreditando que são inquestionáveis, sem nem ao menos se perguntar quem realmente as escreveu?
Fé e poder caminham juntos há séculos, mas será que deveriam? E mais: será que em algum lugar do Vaticano tem um roteador de Wi-Fi divino, onde só alguns poucos têm a senha para acessar as decisões lá de cima? Se for o caso, bem que podiam compartilhar. Afinal, acho que tem muita gente precisando dessa conexão direta.
E ficastes apenas no Cristianismo Católico. Fora destes muros paroquiais, além de milhares de outras Igrejas Cristãs, ainda têm dezenas de outras Religiões a decidirem sobre a verdade, a fé, a vida, etc. Isto, para ficar apenas no mundo da religiosidade (nem sempre tão religiosa). Imagine o mundo da política, da economia, da tecnologia…
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