Entre Deus, o dado e o poder

por b. monma

Já reparou como a história se repete, só que com uma roupa diferente?
Ontem eram os generais e seus tanques. Hoje são os algoritmos e seus códigos.
O controle continua o mesmo, só mudou de roupa.

A gente estudou na escola que a Coreia do Norte vive numa ditadura desde 1948,
mas quase ninguém fala que a maioria das ditaduras nasceram junto com o avanço da ciência.
Enquanto o homem dividia o átomo e sonhava em pisar na Lua,
também aprendia a vigiar o outro, censurar a palavra e controlar o pensamento.

É curioso, né?
Quanto mais o ser humano descobre sobre o universo, mais parece temer a própria liberdade.


A história corre em ondas

Depois da Segunda Guerra, veio a primeira onda de regimes autoritários.
Uns diziam lutar pelo comunismo, outros pela democracia.
Mas no fim, era tudo poder e medo.
A URSS criou foguetes, a América criou bombas,
e no meio disso tudo, o povo só queria sobreviver.

Na América Latina, vieram os golpes militares.
Ditaduras em nome da “ordem”.
O progresso era vigiado.
O Brasil crescia, mas quem pensava demais, sumia.

E quando o mundo achou que tinha aprendido,
chegou a versão moderna do autoritarismo:
sem farda, sem discurso, só um wi-fi aberto e uma timeline infinita.


O controle agora é invisível

Ninguém precisa mais mandar calar a boca.
A gente mesmo se distrai, se compara, se esgota.
A censura virou entretenimento.
O medo virou notificação.

E é aí que vem a provocação:
e se a internet for a marca da besta?

Não no sentido literal ,
não é o chip, o QR code, o 666.
Mas o sistema invisível que marca quem pensa e quem repete.
Quem cria e quem consome.
Quem ainda sente e quem só reage.

A “marca na testa” pode ser o pensamento automático.
A “marca na mão”, a ação sem consciência.
A besta talvez não tenha chifres ,
talvez tenha sinal 5G.


E a religião nisso tudo?

Nos regimes autoritários, a fé sempre foi moeda de troca.
Alguns a extinguem, outros a monopolizam.
Na Coreia do Norte, o líder é o Deus.
Na China, o Estado é o templo.
No Irã, Deus é o Estado.
E na Rússia, o patriarca e o presidente oram juntos pelo poder.

Mas mesmo sob censura, o espírito humano sempre dá um jeito.
A fé se esconde nas músicas, nos rituais, nas entrelinhas das artes.
Porque o divino, de verdade, nunca precisou de permissão pra existir.


Então o que os ditadores sabem?

Sabem que o medo é mais obediente que o amor.
Sabem que a segurança vale mais que a liberdade, porque a maioria das pessoas prefere o conforto à consciência.
Sabem que o controle não precisa de prisão, basta confusão.

E sabem que a arte, a palavra e a fé viva
são as únicas coisas que ainda escapam.


No fim, tudo se resume a isso

A ciência criou as ferramentas.
A religião tentou dar sentido.
O poder aprendeu a usar as duas.

Mas a consciência, essa, ninguém controla.

E talvez o verdadeiro ato de resistência hoje
seja pensar por conta própria.
Desligar o automático.
Sentir o invisível.
Relembrar o que é ser humano
num mundo que quer transformar tudo em dado.

Porque quem ainda sente, não pode ser totalmente dominado.

– b. monma ✦

Publicado por Bruna Monma

Escritora e criadora de projetos autorais. Escrevo crônicas, reflexões e narrativas sobre identidade, tempo e o que não cabe em legendas. Acredito na palavra como forma de presença.

2 comentários em “Entre Deus, o dado e o poder

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