Às vezes penso que o Raul Seixas foi só um Nietzsche sem supervisão terapêutica. Um Jung sem mandala pra se centrar. Um Davi sem Deus pra segurar a onda.
Ele abriu a cabeça, o coração, a alma — e esqueceu de ter um lugar seguro pra voltar depois. E aí o abismo olhou de volta (Nietzsche que o diga) e tragou ele inteiro.
Jung dizia: “Aquilo que você mais precisa será encontrado onde você menos quer olhar.” Raul olhou, fuçou, revirou, fez samba com o demônio e rock com a filosofia barata. Mas não tinha estrutura. Não tinha âncora. Não tinha chão. Talvez tenha tido fé em algum momento, mas foi uma fé tão bagunçada que virou confusão mental.
E aí morreu só, doente, cantando “eu não sou besta pra tirar onda de herói”, mas sendo a personificação trágica do herói caído.
Não acho bonito. Não romantizo. Acho triste. Fraco. Ele foi forte pra escrever versos geniais, mas fraco pra cuidar do próprio corpo e da própria alma.
E aí volto pra mim — porque tudo volta pra gente, né?
Eu fui, eu sou, eu vou.
Mas pra onde? Pra quem? Com quem?
Será que não tô me metendo em perguntas demais só pra não encarar o básico — o feijão com arroz da vida — tipo amar sem tanto manual, ter paz, trabalhar direitinho, fazer uns planos, confiar em Deus?
Às vezes me pergunto se questionar tanto é evolução ou só medo disfarçado de intelectualidade.
A Bíblia fala: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.”
Mas a verdade também dói.
Às vezes liberta, às vezes te deixa pelada no meio da rua, segurando as próprias entranhas, tipo: olha aí quem você é de verdade.
Raul conheceu algumas verdades, mas não sei se foi liberto ou só enlouqueceu.
Eu não quero isso pra mim.
Eu fui, eu sou, eu vou — mas quero ir viva, inteira, simples até, se for preciso.
Sem precisar virar mito pra ser lembrada.
Com minha paz (meio torta, meio linda) intacta.
– b. monma